Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

"Dois anônimos no paraíso"



Ele me recebeu com um beijo cheio de saudades. Me admirou, cheirando o pescoço e os cabelos desejando me tocar. Partimos para nosso ninho onde a rua serviu de sala de estar, nosso alimento a cerveja e o salgadinho de pacote. Dormíamos e banhávamos em motéis baratos. Quando cansados caminhávamos ora de mãos dadas, ora separados sob a lua ou o sol. Riamos, brigávamos, nos amávamos, cantávamos canções um para o outro. Juras de amor e promessas, que jamais serão cumpridas, eram proferidas. Foram talvez dois dias que pareciam dois meses, quem sabe dois anos. Sentados em um lugar qualquer na madrugada eu tinha a sensação de que o conhecia desde sempre. Quando ele me amava via em seus olhos algo familiar. Porém, a hora era nossa grande inimiga, correndo sempre depressa desejosa em nos separar. Quando queria ir embora não conseguia, e assim ia ficando vivendo aquele amor tão intenso, sentindo aquele prazer tão gostoso, gozando de tesão e luxúria. Neste instante, eramos amantes totalmente loucos, confundidos com casais apaixonados, confidentes, inimigos e amigos. Mas, desse amor restou pouco: arranhões, marcas roxas, uma boca seca, corpos doloridos e muita saudade. No fundo eu desejava viver tudo outra vez, não queria ir embora jamais desse momento, pretendia casar neste espaço de tempo e ali viver com o amanhã sempre nascendo para nós dois na rua, à margem da pista principal, sob o olhar dos transeuntes. Contudo, ao fim, acordei desse sonho na porta de casa e sem Meu Amor.