Ele me recebeu com um beijo cheio de saudades. Me admirou, cheirando o pescoço e os cabelos desejando me tocar. Partimos para nosso ninho
onde a rua serviu de sala de estar, nosso alimento a cerveja e o salgadinho
de pacote. Dormíamos e banhávamos em motéis baratos. Quando cansados caminhávamos ora de mãos dadas, ora separados sob a lua ou o sol. Riamos, brigávamos, nos amávamos,
cantávamos canções um para o outro. Juras de amor e promessas, que jamais serão
cumpridas, eram proferidas. Foram talvez dois dias que pareciam dois meses, quem
sabe dois anos. Sentados em um lugar qualquer na madrugada eu tinha a sensação
de que o conhecia desde sempre. Quando ele me amava via em seus olhos algo
familiar. Porém, a hora era nossa grande inimiga, correndo sempre depressa
desejosa em nos separar. Quando queria ir embora não conseguia, e assim ia
ficando vivendo aquele amor tão intenso, sentindo aquele prazer tão gostoso,
gozando de tesão e luxúria. Neste instante, eramos amantes totalmente loucos,
confundidos com casais apaixonados, confidentes, inimigos e amigos. Mas, desse
amor restou pouco: arranhões, marcas roxas, uma boca seca, corpos doloridos e
muita saudade. No fundo eu desejava viver tudo outra vez, não queria ir
embora jamais desse momento, pretendia casar neste espaço de tempo e ali viver
com o amanhã sempre nascendo para nós dois na rua, à margem da pista principal,
sob o olhar dos transeuntes. Contudo, ao fim, acordei desse sonho na porta de
casa e sem Meu Amor.