Carta ao Humano.
Em geral, as pessoas se
comportam de maneira animalesca, fazem das palavras garras pontiagudas que
atingem o amago. E lá permanece durante anos, penetrando
a carne já vivida, não permitindo que a dor cesse. De
múltiplas formas existe uma defesa que não servirá ao propósito, haja vista,
que não há compreensão, respeito, nem um pingo de tolerância. Olhar para o
umbigo e ter como plano de fundo a própria barriga e as pernas é fácil, é limitar-se
a isso e desejar que o restante imite. Egoísmo estrutural que rompe a carne para
atravessar o coração do iludidos. Não se pode ser tão bom, o ser natural sempre
será bruto como a pedra que brota da terra, como cachorro do mato. Tente observar
no espelho a imagem disforme que se apresenta horrenda, marcada de sangue, sol
e suor. Se for da água quente que se tem medo, não é de felinas maledicências
que se fugirá?! Só sei que cansado meu corpo está de tanto lutar a contrapelo neste
mar de ilusão, mentira, ditames de ordem torta e convencional, pessoas brutas,
ignorantes e azedas. Não quero ser estéril como a natureza morta que brota dos
teus lindos lábios quando emites um som! Não há vida, só tristeza, devassidão de
quem ainda não aprendeu a andar fora do brejo. Dou por mim, o fim, talvez, por
ausência de paciência, vontade, cheiro, excitação. Ou por que, sou homem por
demais para aceitar o orgulho ferido e as dores que retornam quando dou de
frente com tua figura maléfica, ardilosa e amada. Diga que sou fraco, ande. Diga que sou afoito. Sou isto depois de ti. Devo ser lúcido, calmo e esperançoso. Porém, não
posso mais ser assim, destruístes o que havia aqui. Me expurgastes ao limbo.
E o que resta são fragmentos do que fui, unidos por veias e sangue do que me
tornei hoje.