Farelos de pão na mesa.
Um copo pela metade de café com leite.
Uma faca suja de margarina.
Estarrecido na cozinha, não acreditei.
Televisão ligada no quarto.
Caminhei calmamente até lá.
E a vejo deitada de bruços na cama...
Com um blusão velho meu.. Cabelos em desalinho..
Pernas entre abertas.. Linda.
Da porta olhei, na porta fiquei.
O que ela estava fazendo ali? Por que retornara?
Não a acordei.
Não vi você chegar! – ela comentou e me abraçou por trás.
Tirei suas mãos e as segurei olhando firme nos olhos..
O que fazes aqui Chanel? – Ela me olhou surpresa.
Não tem nada para comer, morro de fome – ignorou minha indagação. E fui falando atrás.
Não querias liberdade? Sair com os amigos? Viver sua vida? Então vá. Sabes quantas noites fiquei chorando por ti? – tentativa de compaixão em vão.
Ah João, tenha dó, não fique se lamentando, estou de volta – falou ela comendo uma maçã.
Vamos aproveitar, vem, vamos pro quarto, senti saudades – se aconchegando nos meus braços e peito.
Não te quero aqui, por favor, saia!!! Estou esperando alguém – tentei contornar.
Você? Esperando alguém? Tá de brincadeira comigo!! [risadas sarcásticas]. Você não faria isso nunca – falou com propriedade.
Vem aqui comigo, estou com dor nos pés – Quase ordenando manhosa.
Essa é Chanel, conhecida assim pelo corte de cabelo usado desde que se entende por gente. Dona de si. Vaidosa. Sempre consegue o que quer. Inclusive a mim.
Hummmm isso amor, só você sabe fazer essa massagem – dizia ela deitada, suspirando.
Deixava-me louco. Tinha as pernas magras. Mas as coxas eram formosas.
Com a perna esquerda sobre a minha, massageava seus pés, observando por entre as coxas. Que linda paisagem.
Mais acima, estavam os seios bicudos na blusa de algodão velha. Cada ponto massageado no pé era um gemido e uma mordida no lábio.
Dos pés não resistia. Subia para as pernas e delas para a coxa e de lá ao paraíso.
Mais uma noite de amor. Mordidas. Tapas. Gemidos intensos.
Manhã seguinte - já sabia o lugar - olhei para mesinha da televisão, lá estava o bilhete:
Joãozinho,
Sabes que te amo, mas tenho que sair hoje, vou pra Bahia.
Talvez volte qualquer dia.
O certo é que tô vivendo, eu tô tentando, desculpe-me, mas nosso amor ontem foi um engano.
Beijos
Chanel
Apenas abri a gaveta do criado mudo e joguei o bilhete lá dentro, junto com centenas de outros que ela já me deixou...