Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Descoberta


Eram lindos.
Dois bicos em tom terracota sob duas montanhas claras.
Algumas gotas d’agua ainda estavam por ali.
Meus olhos espreitavam cada centímetro do seu corpo,
nu,
molhado.
Cora dormia solta.
De pernas abertas.
Deixando a mostra alguns pelinhos ralos.
Lábios vermelhos.
Vez ou outra se mexia, fazia uns ruídos, mas tinha certeza que não sabia de mim.
Hesitei tocá-la.
Porém, o desejo me tomava.
Sabia que havia chegado de mais uma noitada.
Escutei quando mamãe brigou com ela.
Talvez, cansada, nem sentisse minhas mãos.
Que aos poucos deslizavam por sua perna.
Subi mais um pouco na cama, e com as pontas dos dedos
caminhei até o meio das pernas.
Toquei de leve os pelinhos ralinhos e os lábios vermelhinhos.
Num só tempo gememos!
Peguei um susto, pois pensei que ela tinha acordado.
Mas ela continuava como um neném.
Os dois bicos agora me chamavam atenção.
Estavam durinhos.
Queria tocá-los.
Algo dentro de mim era mais forte e ...
levei a boca num deles, de olho esticado pra ver se Cora não acordava.
Aquilo era tão gostoso, aproveitei um pouco o instante.
Que pecado, pensei. Teria de contar ao padre?
Nããão. Aquilo seria só meu.
Com o bico ainda na boca quis sugar,
mas escutei um grito que vinha da cozinha,
era mamãe: “Laaaauraaaa, vem tomar café!”.



Barão da Ralé

Quase


Fugi do trabalho e fui mais cedo pra casa. 
Quando cheguei parecia que Leonor não estava.
Olhei as correspondências sobre a mesa: contas e algumas propagandas.
Quer saber: vou beber e fumar um cigarro!
Fui até a geladeira, 
peguei uma cerveja.
Procurei os cigarros no bolso.
Era um final de tarde lindo.


Devagar, tirei a roupa.
Liguei a tevê: “Primavera árabe. Novo partido é eleito na Tunísia”.
[Recostado no sofá]  
Tragava meu cigarro, como se fosse o último, que gostoso!
[Parou e prestou atenção no ruído que vinha do quarto]
Rápido apaguei o cigarro, Leonor odeia quando eu fumo.
Mas peraí... Que diabo era aquilo?
Entrei em desespero. Não era possível.
Eram gemidos, e de sexo!
Caminhei pelo corredor,  
da porta entre aberta, vi Leonor, deitada na cama
nua,
de olhos fechados.
Olhei mais, vi que estava sozinha.
Ufa, que alívio!
Mas o que era aquilo que estava fazendo?
[Com fones de ouvido e um pênis verde]
Leonor se masturbava.

Fiquei furioso, quis entrar e tirar satisfações.
Mas pensando bem, aquilo me excitava.
Não quis atrapalhar, 
que lindo era
ver Leonor se satisfazer.
Não demorou muito,
eu estava excitado.
Quando ousei me tocar,  
já era tarde: Leonor gozara, gemendo tanto
arfando, puxando os lençóis da cama com uma das mãos,
apertando um seio com a outra.

Tornei a sala. Fiz parecer que dormi vendo a tevê.
Fui acordado com um beijo suave e maças do rosto rosadas.
Naquela noite quis transar, mas tudo que tive foi:
vários beijos de língua,
uma bela chupada,
uma exploração total pelo corpo quente de Leonor,
Nada de sexo!

Como pode alguém se masturbar daquele modo e não querer transar?
Sabia que ela queria. Estava toda melada. Arranhava minha costa.
Puxava meus cabelos.
Se esfregava no meu corpo.
mas Nada de sexo!

Dia seguinte, lá estava ela naquele ritual de prazer que me torturava!
Me dava raiva, angustia, queria vê-la gozar assim comigo.
Certa tarde,
cheguei em casa, pensei que iria assistir a mais uma sessão de prazer egoísta de Leonor.
Mas ela não estava.
Fui pro quarto, tentando imaginar porque ela fazia isso.
Depois do banho me deitei de toalha.
Ainda molhado.
Relembrando todas as noites que estive com ela sem transar.
E quando dei por mim, estava ali
naquele ritual sinistro,
e prazeroso!
Me tocando.
Cadenciando cada batida, ora devagar ora rápido.
Explodi num prazer diferente, forte e cansativo, que dormi.

Acordei já tarde. Leonor estava dormindo ao meu lado.
Eu estava nu e ela também.
Não sei bem o cenário que ela encontrou.
Mais sei que não se importou.
Ela estava desgrenhada, ainda com cheiro de sabonete, cabelos úmidos.
Aproveitei para beijar seu pescoço,
passar as mãos pelos seios
deslizando pelas ancas.
E mais uma vez, nos tocamos, nos beijamos,
nos chupamos...
E no dia seguinte, Leonor se masturbava pela tarde.
E eu, pela noite.
Me imaginava com algumas mulheres que havia visto durante o dia,
mas o melhor da noite vinha quando pensava em Leonor.
Que tesão, que tensão!
Sempre me desfazia de gozar, imaginando como seria tocar minha própria mulher...



Barão da Ralé

domingo, 30 de outubro de 2011

Do fim ao começo




[Numa bar qualquer, com fotos da Belle Époque belenense, música popular brasileira na tevê e dois copos ainda cheios]
[Ela está falando]

O passado estava enterrado.
Sem importância. Sem merecer destaque algum.
[Ele indaga, chateado com aquilo]
Não, não se tratam de lembranças ruins, sabe?
No entanto, são lembranças que não merecem ser revividas.
Traze-las de volta é o mesmo que mexer num vespeiro.
Num ninho de caba.
Num escorpião.
São atraentes. Me fazem sorrir.
[Ela sorri]
[Mas, segue falando com expressão séria]
Mas são dolorosas, como mil facas que ao mesmo tempo cortam minha carne.
Ainda insisto que não tem importância.
Foram momentos que vivi... e nem estava nos planos te conhecer.
[Altera a voz e logo fala baixinho]
Acredite, elas não possuem valor.
Só me fazem lembrar o quanto errei, fui tola, ingênua,
o quanto [hesita]... me entreguei.
Isso porque trago comigo um histórico de erros.
Enganos.
Desencontros.
Coisas das quais pretendo um dia me livrar.
Mas por hora, não sei como fazer, sabe?
[Olha para um dos quadros na parede]
Tenho contas pra pagar, um projeto pra executar,
algumas disciplinas pendentes,
uma vida pra viver contigo.
[Eles se olham]  
[Ela continua]
Coisas mais importantes.
Qualquer coisa que tenha vivido antes de ti, não tem valor.
É bem verdade que elas estão presentes no que sou hoje.
Mas cresci.  
Hoje sou outra pessoa, ou uma pessoa modificada, melhorada.
Nem sei.
Porém, o que importa meu amor,
é que o passado não é mais importante do que nosso presente.
[Ele se chateia, não acredita no que ela fala, briga e ela se levanta]
[Está indo embora, mas retorna e continua]
[Voz alterada]
Me sirva mais um copo, me chame para conversar,
transar, ou que seja, ler poesias.
Vou adorar.
[Já mansa]
Não desista de mim, de nós.
[Suplica]
Tenho lá meus lapsos, meus erros, meu passado.
Isso não tem valor.
[Senta-se novamente na mesa, olha pro chão e continua]
No escuro do quarto, no frio da madrugada...
o que te ofereço é um pouco de verdade.
Sabes que desejava ter te conhecido antes.
Mas não foi assim.
[Toca Amor, meu grande amor, Angela Ro ro]
Me veja, me queira.
[Ele a observa]
É tudo que posso te oferecer.
[Ficam em silêncio]
[Ela chora copiosamente já bêbada]
[Ele a abraça e fala chateado, ruído por ela chorar por aquilo]
Desculpas, não sabia que isso te tocava tanto.
Era apenas curiosidade.
Não quis te chatear.
[Ela bate na mesa e quase grita]
NÃO TEM IMPORTÂNCIA!
Poxa, vivo contigo todos os dias.
Isso não é o bastante?
[Ele fala ríspido]
Mas não sei da tua mente!
Não sei o que pensas ou desejas!
Não sei!
[Eles permanecem calados]
[Se dão as mãos e se beijam, como se nada tivesse acontecido]
[Ela chora, pedi desculpas, bêbada]
[Ele pedi desculpas e vão embora].




Barão da Ralé

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

"Só dure o tempo que mereça"



[interlocutor, clique na imagem]


Nunca satisfeitos.
Saímos desesperados em busca do corpo, da boca, do sexo.
Barato.
Sujo.
Os olhares se entrelaçam.
As bocas insinuosas chamam.
O preço é um pecado.
Doce.
Porém, curto.
Rapidamente, reposto, com medo de ser pego.
Tudo restabelecido.
Por segundos...
Porque o mundo é interessante demais...
As vitrines, das janelas, da televisão, da imaginação.
Já em casa.
O amor reina.
Tudo é dois. Tudo é eterno.
Quando na rua.
O prazer absoluto e justificável toma conta.
Tudo é mil. Tudo é efêmero.
Proibido
... está vendo.
Ninguém
...é mais gostoso.
Não existe eterno, dois, amor...
Tudo empoeirou na estante!
porque Nunca estaremos satisfeitos...
Enquanto vivermos besuntados do novo e do velho, do moderno e do antigo,
do hoje e do ontem. 




Barão da Ralé 



domingo, 16 de outubro de 2011

São brancos...




Adoro os cabelos brancos, que percorrem o corpo vivido.
Que despontam na cabeça,
descem até a barba por fazer
e se enrolam no peito calejado.
Adoro os pés chatos.
e os braços fortes
e a mão grossa.
Os olhos lagrimejados.
O sorriso largo e bem vindo.
Adoro a boca,
que fala  por si, a todo o momento, antes das
palavras.
Da aliança no dedo.
Da marca branca que deixa.
Adoro o modo como planeja nossa vida.
Como nos enxerga no
futuro.
Da maneira como lava
meu corpo.
Como traz a água no meio da noite,
para matar a sede.
Adoro quando já não sabe falar e
grita.
Do ciúme desmedido e remediado.
Dos livros que lê.
Adoro o modo como segura minha mão.
Como sempre busca meu olhar.
E fala que me ama.
E me ama
na cama.
Adoro os sinais que pintam os ombros...
Aqueles que me agarro na noite...
E seguro firme.  
Mas são dos cabelos brancos que gosto mais.
Dizem que é experiente, vivido,
mas aqui comigo é criança de novo,
quer mais.
São brancos pelo tempo e
puros mais uma vez.




Barão da Ralé

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Nem amor e nem dor

Ele saiu de casa chateado.
Fiquei jogada na cama, ainda sentindo os espasmos do corpo causados pelo amor gostoso que fizemos.
Seminua. Suada. Com um sorriso no rosto.
Não o amava mais. Agora tinha certeza.
***

Essa é uma história de amor de Maria e Claudionor.
Amor, nem tanto. Mas de desencontros, sofrimentos, aventuras e sexo, sim!
Eu amei Claudionor.
Encontramo-nos num bar desses da vida. Ele sozinho, eu em busca de alguém. Aproximei-me, pedi um copo de cerveja. Conversamos por horas e fomos parar num quartinho de quinta categoria na Riachuelo. Desde aquela noite, sempre me deitava com ele. Simplesmente ignorava os demais para dar-lhe preferência.
Com o tempo, pensei amar Claudionor. Larguei o ofício. Virei dona de sua casa. Lavava. Passava. Cozinhava.  E ele?
Continuava chegando bêbado. Fedendo a cigarro e sexo de puta.
Ficava transtornada. Levantava-me a mão. Surrava-me na salinha. Deixando-me toda desgrenhada e roxa. Noutro dia levantava como o sol, como se nada tivesse acontecido.
Andava com as putas que um dia foram minhas amigas. Soube que estava de romance com Marieta. Fiquei fula. Levava-a para charlar. Dava-lhe as coisas e dinheiro. E a mim nem um olhar.
Puta da vida fui até o ponto. Desci a porrada na puta. Claro que apanhei. Todas se juntaram contra mim e me surraram. E de relance vi Claudionor, fumando e observando a cena, sem intervir.
Quando na cama nos deitávamos, nosso amor era perfeito. Claudionor sabia como tratar uma mulher. Puxava-me os cabelos, beijando a boca e dizendo que era meu dono. Metia-me com vigor, tapas e mordidas. Deixava-me dolorida e satisfeita.
Fora dela, não valia um centavo.
Dia desses, não aguentei! Fui embora de casa. Retornei pra vida. Queria ter meu dinheiro e meu cantinho. Mudei de ponto. Lá fazia sucesso. Era a morena do Pará. Ganhava bem.
Certa tarde enquanto descansava, Claudionor me encontrou. Estava vistoso, cheiroso e lindo. Não aguentei. Fomos parar na cama.
Mas ao invés dele me dominar, eu tomei de conta. Bati. Mordi. Xinguei. Mandei calar a boca. Puxei seus cabelos e dei-lhe tapas.
Surpreso com minha mudança ousou propor nosso retorno. Claro que disse não. Isso foi o motivo para que ele me procurasse por anos. Nenhuma das vezes neguei meu corpo e nem o prazer.
Mas o amor, jamais lhe dei novamente.  




Barão da Ralé