Eles são dois.
Dois sentados lado a lado.
Lado a lado no assento do
coletivo.
Coletivo vago, com muitos assentos
também vagos. Mas eles estão lado a lado.
Não conversam. Não se olham.
Mal vivem.
São dois.
Dois estranhamente conhecidos.
Vivem juntos. Dividem o apartamento 208.
Mas são agora somente dois,
sentados lado a lado, num coletivo vago, que não conversam, não se olham, mas
tentam viver.
Viver o que um dia foi “sim, eu
aceito” seguido de muitas juras de sentimentos mútuos para o restante da
existência de ambos.
Talvez viver o suficiente para
pagar as contas, dar uma volta do shopping e voltar para casa.
Ou simplesmente tentam viver,
ansiando por sentido, como um peixe por água fora dela.
Eles agora percebem que são
“um”. Sentados lado a lado. Num coletivo vago. E que devem viver.
Olham pelas janelas do ônibus
buscando nas bocas dos desconhecidos respostas. Quem sabe encontrar onde
falharam tempos antes. Quem sabe remediar o irremediável.
Sim, são dois, mas percebem que
mesmo em meio à chuva que lava a cidade e molha suas roupas ainda podem ser um.
Independente das farpas
trocadas durante o café da manhã, ele estende o guarda-chuvas e a convida para
se proteger da chuva que pegou os dois de surpresa.
Ela esboça um sorriso à lá
Monalisa, como se desejasse agradecer, mas logo se retrai e lembra que aquilo
apenas vai durar 10 ou 16 minutos. Somente o tempo de a chuva passar.
E tornam-se dois estranhos de novo, já fora do
coletivo, aguardando a chuva passar. É só uma chuvinha, contempla ele. Ela
acena com a cabeça concordando e perdida nos seus próprios sentimentos.
Você pode seguir sozinha? Tenho
que ir – ele indaga.
Ela somente acena afirmativo
com a cabeça novamente.
E mais do que nunca eles são
dois. Cada um no seu caminho. Buscando seu sentido.
2 comentários:
Adorei.
;)
Postar um comentário