Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Partida de futebol


Aquela era sua camisa preferida. Hoje estava certo que veria seu time ganhar. Ele não ganhava uma há 9 anos, mas afinal de contas, vê-lo em campo era sua grande paixão. Nada, nada mesmo, o fazia deixar de ir ao campo. Era um domingo ensolarado, a camisa estava velha e já puída. “Melhor assim”, pensava ele, também não pretendia chamar muita atenção na nova vizinhança. Por entre as coisas espalhadas pelo pequeno quartinho alugado na vila, buscava por um óculos escuro. Tocava os bolsos se certificando que estava com carteira, chaves e celular. Uma parada estratégica no boteco da esquina para uma sopa bem quente estava um pouco ressacado, a noite passada havia sido das boas, noite de repartir o pão e gozar do bom e melhor que o dinheiro pode pagar. Deixando o troco para o velho dono do boteco, saiu pela rua caminhando, buscando uma condução até o estádio. Observava o relógio e via que estava um pouco atrasado, já não conseguiria um bom lugar. O estádio estava lotado, era a final do campeonato estadual, ele observava o lugar, tentando dar conta do que acontecia naquele formigueiro. Uns faziam bolão, outros tomavam uma cerveja e fumavam um cigarro, rolava também um churrasquinho de gato, alguns compravam de ultima seu manto do camelô, a polícia se fazia presente de corpo, demonstrando pouca preocupação, afinal era domingo. Nada que pudesse atrapalhar seus planos. Satisfeito com a atmosfera, sem preocupação, mais um jogo, talvez uma esperança de ver o time campeão. E não é que o time jogava bem, 26 do segundo tempo, ele roía as unhas, o time fazia 2 a 1. Era uma oportunidade de ganhar e de mais uma noite regada a álcool e papo furado. Enquanto ele observava o que acontecia no campo, dois homens afoitos discutiam 5 fileiras atrás dele. Pareciam buscar por alguém, enquanto todos estavam atentos, eles subiam e desciam as arquibancadas. Passaram por ele, mas ele não deu atenção. E goooooooool. O jogo estava empatado. Chateado decidiu ir embora e bateu de frente com os 2 inquietos na multidão fanática e enfurecida pelo empate. Um deles gritou “é ele”, instintivamente ele correu por entre as pessoas. Numa caçada frenética, os 2 o perseguiram, empurrando e derrubando o que ou quem estava no caminho. Encurralado ele se lançou por uma mureta, machucando a perna e mesmo assim correu em sentido ao campo de futebol, em plena partida. E lá, esbarrando-se num jogador, caiu e vários cachorros o cercaram, ele finalmente estava preso. E ele só pensava que mais uma vez seu time não vencera. “Que lastima” dizia a si mesmo.  



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