Aquela era sua camisa
preferida. Hoje estava certo que veria seu time ganhar. Ele não ganhava uma há
9 anos, mas afinal de contas, vê-lo em campo era sua grande paixão. Nada, nada
mesmo, o fazia deixar de ir ao campo. Era um domingo ensolarado, a camisa
estava velha e já puída. “Melhor assim”, pensava ele, também não pretendia
chamar muita atenção na nova vizinhança. Por entre as coisas espalhadas pelo
pequeno quartinho alugado na vila, buscava por um óculos escuro. Tocava os
bolsos se certificando que estava com carteira, chaves e celular. Uma parada estratégica
no boteco da esquina para uma sopa bem quente estava um pouco ressacado, a
noite passada havia sido das boas, noite de repartir o pão e gozar do bom e
melhor que o dinheiro pode pagar. Deixando o troco para o velho dono do boteco,
saiu pela rua caminhando, buscando uma condução até o estádio. Observava o
relógio e via que estava um pouco atrasado, já não conseguiria um bom lugar. O estádio
estava lotado, era a final do campeonato estadual, ele observava o lugar,
tentando dar conta do que acontecia naquele formigueiro. Uns faziam bolão,
outros tomavam uma cerveja e fumavam um cigarro, rolava também um churrasquinho
de gato, alguns compravam de ultima seu manto do camelô, a polícia se fazia
presente de corpo, demonstrando pouca preocupação, afinal era domingo. Nada que
pudesse atrapalhar seus planos. Satisfeito com a atmosfera, sem preocupação,
mais um jogo, talvez uma esperança de ver o time campeão. E não é que o time
jogava bem, 26 do segundo tempo, ele roía as unhas, o time fazia 2 a 1. Era uma
oportunidade de ganhar e de mais uma noite regada a álcool e papo furado. Enquanto
ele observava o que acontecia no campo, dois homens afoitos discutiam 5
fileiras atrás dele. Pareciam buscar por alguém, enquanto todos estavam
atentos, eles subiam e desciam as arquibancadas. Passaram por ele, mas ele não
deu atenção. E goooooooool. O jogo estava empatado. Chateado decidiu ir embora
e bateu de frente com os 2 inquietos na multidão fanática e enfurecida pelo
empate. Um deles gritou “é ele”, instintivamente ele correu por entre as
pessoas. Numa caçada frenética, os 2 o perseguiram, empurrando e derrubando o
que ou quem estava no caminho. Encurralado ele se lançou por uma mureta, machucando
a perna e mesmo assim correu em sentido ao campo de futebol, em plena partida. E lá,
esbarrando-se num jogador, caiu e vários cachorros o cercaram, ele finalmente
estava preso. E ele só pensava que mais uma vez seu time não vencera. “Que lastima”
dizia a si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário