Sabes que ainda lembro-me de
tua voz me pedindo para escrever sobre “nós”.
Desejando testar minha
criatividade juntamente com insanidade para descrever “nosso caso”. Confesso
que jamais escrevi a respeito até hoje, talvez precisasse de mais matéria prima,
memórias, palavras e imagens. E agora, ainda sinto dificuldades, me fogem as palavras
que melhor podem expressar o que vivemos lado a lado em algumas horas de
telefone ou em dias corridos no meio da semana. Ainda assim, nesses encontros juntávamos
as expectativas, os desejos, as histórias de amores não vividos, os fragmentos
de memória, os futuros pretendidos, os medos guardados e a salvação, ao final,
para os dois. Me perdoa por não conseguir escrever sobre “nós”, talvez eu não
ouse mesmo. Poderia falar do sexo, das cervejas, das mãos dadas ao final de
tudo, do desejo de compartilhar um simples cigarro. Porém, sinto que estaria contando
um conto simples, criando uma história qualquer, inventando personagens,
cenários, enredo com começo meio e fim. Isso não é “nós”. Sabe por quê? Porque
éramos perdidos, diferentes, reais, viscerais, violentos. E hoje, ainda somos.
Porém, restaram em nós palavras mal interpretadas como ressaca de onda do mar
frio junto com frustração, dor e vazio. Nada de amor, nada de futuro, nada de
nós. Construímos algo, ou tentamos construir, sem atentar que nós éramos e
somos formas diferentes de amar, de viver, de sentir, de fazer sexo, de beber
uma cerveja, de se expressar, de refletir, de estar no mundo. Apenas e
fundamentalmente diferentes. Ainda lembro de todo aquele ímpeto (tão reprimido
por mim), das ressalvas sobre machismo e feminismo, da maneira de me aconselhar
(planejar) sobre minha vida, falar sobre suas experiências mais intimas. Entre
idas e vindas, nós pecamos. Pecamos muito. Decidimos seguir contra a maré da
vida. Eu sei que um dia vais ler esse texto e vais saber que me refiro a ti.
Com certeza vais discordar de algumas colocações e se puder vai me questionar.
Mas se isso não acontecer, também não ficarei triste, pois eu vivi contigo.
E
“nós”, amor, ficamos em algum lugar desse percurso, não esquecidos, mas talvez
como dois estranhos conhecidos.
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