Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Eu não sei ver na escuridão

Ele diz me amar, mas eu sei que no fundo teme este sentimento. Não quer de modo algum se envolver e se ver atado em minhas teias. Teme ver sua imagem de bom moço arranhada, teme desagradar seus amigos e até inimigos, teme perder o que acredita ser seu: sua família. Diz que sou linda, especial, cheia de virtudes, mas que sou eu a culpada pelas loucuras que decidir fazer entre quatro paredes comigo. Ah, olhos cor de mar encantadores e reveladores de grande tesão e luxúria. São eles que me encantam enquanto promessas são disparadas da boca aflita. Que diferença faz? Tudo tem um preço, hora e dia marcado. É nisso que se resume todo seu amor. Ah, claro, e em cervejas. Muitas cervejas. Ele diz que deseja que eu vá com ele, mas tem medo, chora quando leio um texto bobo e não para de olhar o relógio. Que sorte ela tem ao lado dele, penso. Que sorte tem eles do carinho que recebem dele, penso. Sempre o observo falando da vida; de como é difícil planejar a agenda da semana; de como o dinheiro é curto; e o trabalho que hoje foi pesado. E eu com isso? Eu queria somente ter mais tempo, quem sabe mais espaço, quem sabe esse amor de verdade que ele diz. Caminhando pela rua lembro que estou com ele, que juntos projetamos sonhos modestos, que o amor não sabe esperar e a saudade dói. Pelo menos para mim. 
Mas, meus cabelos entram pela boca e olhos, o vento bate forte e a poeira sobe, e caiu em mim que não sei ver na escuridão e, finalmente, apanho o ônibus.

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