Onde eu estava quando você cresceu – exclamou ele.
Depois de longos anos ele ressurgiu, numa calça marrom, blusa social e sandálias de dedo.
Trouxe-me algumas fotografias, de tempos imemoriáveis.
Um brinco e cordão de ouro.
Entregou-me em uma caixinha laranja, que guardo até hoje.
Enquanto ele me contava como tinha sido nos lugares por onde andou, eu o observava:
como gesticulava,
seu sotaque,
e como piscava pra mim, no final de cada história.
Tinha 24 anos, mas me senti com 9.
Meus cabelos eram com frequência desalinhados por sua mão grande com dedos esguios.
Como você cresceu – a exclamação era permanente.
Saímos para comer peixe com bastante pimenta.
Tomar uma cerveja.
No final do dia, ele escondia nos meus bolsos uns bolinhos de dinheiro.
Que eram rapidamente rejeitados.
Não os queria mais do que queria a ele.
Nossa comunicação era precária, mas nosso olhar dizia tudo.
Ele, admiração.
Eu, medo.
Era surreal ver aquele sorriso largo, até parecia eu.
Aqueles cabelos pretos e lisos.
Aquela sola de pé grossa e marrom.
Corpo lento, largo e alto.
Era diferente de todos.
Mas com o tempo acabou como lembrança corroída
e saudade apertada no peito.
Por Barão da Ralé
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