Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Presa

O rótulo de doidivanas antecede o ser mulher que é. Isto por que, valoriza o que tem no corpo e o que faz da vida, sem somar o apoio e opinião de terceiros. No fundo, não chega a ser inconsequente, contudo, gosta de fazê-los pensar que é. Não há dia para beber e sair. Com a flor no cabelo segue até a baixa paisagem e cartão postal da cidade. Não busca nada além que um copo cheio de cerveja, admirar o rio-mar e conversar a toa. Apesar de algumas preocupações, ali quer se desprender, esquecer por algum instante o que lhe aguarda. Acende o cigarro e observa as mesas ao lado onde estão alguns homens que parecem ter vindo de mais um dia cansativo de trabalho assalariado, mas, estão ali em busca de boa sacanagem. Piscadas são retribuídas com um lindo sorriso. Mais além, há um casal "hétero", parecem bem, conversam e riem.  E nesse mar de gente que se apresenta nada lhe chama mais atenção do que o próprio copo cheio de cerveja. Joga conversa fora enquanto algumas pessoas param para ver o sol deitar. Quando a noite chega tudo se transforma. A paisagem que antes era urbana e diacrônica torna-se palco de exibições múltiplas, desejos a flor da pele, luxúria e disputa. Os cordeiros são lobos maus prontos para arrebatar suas possíveis presas. Neste universo o ser mulher  ou o que se parece é o objeto de desejo fálico. Aquilo assusta e num só tempo excita. Os homens embriagados tornam-se machos sedentos que, se levantam de suas mesas e caminham em busca das fêmeas. Brigam por ela, disputam seu olhar, entre "psius" e investidas audaciosas de toca-la e elogia-la. De tudo isso, os risos são inevitáveis, ser cobiçado, peça rara, leiloada na mesa redonda de bar de feira. Aquilo é instigante. Cobre a presa de luxúria e ira. Fome e sede de sexo, tapas e mordidas. Num piscar, a atenção é furtada, com a promessa fácil de amizade. Já não há pressa e retorna ao lugar do ser mulher. Gosta da ideia, com isso, mal percebe o lobo que rasteja para perto dela em pele de cordeiro. Cai em si, ainda sim, deseja ver onde terminará. Quem sabe num banheiro sujo de quinta categoria, numa parede marcada por números de telefones, nomes e marcas de bocas com batom. Ali é abatida, seminua, entrega-se a qualquer. São bocas que se encaixam lascivamente, bicos de seios em rije desejando ser sugados, bucetas acariciadas... e o tempo bate a porta. Já passa da meia noite e o encanto termina. Os homens que tanto a desejaram ficaram suspirando do lado de fora, observando a sortuda com ira e demonstrando a presa o que ainda tinham a oferecer por debaixo das calças. Ela limita-se a sorrir, até deseja experimentar uma dose daquela desventura, porém a noite terminará ali. Precisa terminar ali, pensa ela sorrindo.

Barão da Ralé

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