Adeus.
E com um copo vazio permaneci
sentada na cozinha de casa. Tão logo as lembranças inundaram o recito e
revivi o momento do encontro. Exatos 14 anos da minha vida doados a alguém que
sempre quis bem. Ciente que o oferecido seria uma garrafa de café preto, um jornal
e batidas na porta durante a madrugada ou quando desse na telha. O dia seguinte
era outro e seguia. Era pegar ou largar. Mas a safadeza e a luxúria impediam-me
de largar o gosto do gozo na boca e na alma, das noites e madrugadas em claro,
que entre sexo e cigarros, conversas e afagos, me levaram ao pior dos
sentimentos, o amor. De encontros na pracinha, no bar da esquina, até minha
cama, o não era sim, e o sim era não. Trabalhava, pagava minhas contas, ia à
vendinha. O coração era sempre apertado. O papo furado com as amigas e o olho
espichado no relógio. Vez ou outra chegava um recadinho num pedaço de papel. Era
toda felicidade. O bolero começava tocar cedo em casa. O vaso ganhava flores. Vestia o melhor dos vestidos. Acendia um cigarro e no fim da noite a
carteira findava. O bolero cessava no rádio. E tu não vinhas. Ficava desgrenhada
com meu vestido encolhida na cama. Jurando que outra promessa assim eu não
cederia. Mas era pura ilusão passageira que me confortava naquela noite fria. Um
dia qualquer na minha vida, encontrei-o. Moço, alto, sorriso largo e solteiro. Seria
justo não. Tu para lá e eu para cá. Mas vez em quando poderia me procurar. Contudo,
Raimundo não aceitou e depois de escutar minha proposta e explicação, tudo que
disse foi adeus. E com o copo vazio que ele bebeu a dose permaneci sentada na
cozinha de casa, até que as lembranças do dia que o conheci surgiram. Algumas lágrimas
molharam meu rosto. Porém, pensei nos exatos 14 anos que dediquei a Raimundo. E
deixei que fosse.
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