Pedi uma cerveja e um copo. Sentei-me
à mesa de costume. Hoje o boteco está vazio. Só os fregueses de costume batem
ponto. No rádio toca uma música familiar. É apenas segunda-feira. Enquanto, tomo
um gole gelado, penso que na vida toda tive pouca esperança, mas hoje bem
que eu poderia te ver. Não sou de romance, mas se quisesse ser, essa era a
oportunidade perfeita. Que figura, mexe comigo, me faz sentir jovem de novo. Vivo
hoje pensando no amanhã, já que quando chego em casa, o silêncio é minha
companhia. Ando pela casa tentando encontrar uma saída, porém, sei que ela está
aqui. Peço uma porção de pastel do bar e mais uma cerveja. Parei de fumar pela milésima
vez semana passada, mas assinalo ao homem do balcão uma carteira. Hoje não
tenho hora, como todos os dias. Já fui mais vivido, batia ponto nos bordéis,
nos bares chiques, pedindo sempre conhaque e uísque. Quando olho o movimento da
rua, sempre vejo teu rosto num qualquer. Meu coração dispara. Esboço um
sorriso, indagando-me porque espero horas para te ver. E a explicação vem num
outro gole gelado. Ah! Que delícia! Na outra mesa uma coroa me observa, sinaliza
um brinde, piscando, sorrindo e me convidando para sentar com ela. Será mais
uma, entretanto, não me faço de rogado. O papo flui entre “oi”, “tudo bem”, “vem
sempre aqui”, “que tarde quente”. Esta é Joana. Diz que me observou desde que
cheguei, escutou-a com pouco interesse. Quando pensei em falar algo, minhas
palavras se diluíram com a vinda dela. A tarde inteira esperando aquele
momento. E ela sorri, mexe nos cabelos negros, olha atenta para atravessar a
rua. Com meias três quartos e saia plissada azul marinho vêm de braços dado com
outra amiga. Quase consigo sentir o cheiro que exala. E de fundo apenas sinto o
insistente cutucar de Joana nos ombros. Ela se aproxima, pedi um suco e bolo. Sentam-se
a mesa e riem. Falam efemeridades e eu desejo vulgaridades, imoralidades e
insanidades com aquela menina. Joana consegue me tirar do transe e a olho atônito.
Esboço um sorriso amarelo e peço desculpas. Ela não percebe ou finge não
perceber que desejo aquela pequena. Continua falando “sim, eu dizia” e eu não
tiro os olhos daquelas meias brancas. Dos joelhos lisinhos e roliços, das coxas
semi cobertas por aquela saia azul marinho. E graças ao calor que faz, ela abre
alguns dos botões da blusa, me fazendo estufar a calça. Já não me importo com o
mundo e nem com Joana (que continua falando), só com os farelos de bolo que
insistem em cair por dentro da blusa e com os dedinhos que limpam a boca
risonha. Contudo, para minha enorme tristeza, o bolo se acaba e a ninfa se vai.
E volto a observar o bar e Joana, que agora se retoca, passando um batom jabuticaba
nos lábios. Do bar, vamos parar um motel barato e Joana sensualiza, tentando me
deixar aceso. E as meias brancas e a saia azul não saem do meu pensamento. Aquele
sorriso maroto e os cabelos negros da pequena. Joana dança e chama por mim. Coloca
minhas mãos em seus seios, fala obscenidades e me surpreende com palavras ao pé
do ouvido: “finge que sou aquela garotinha”.
2 comentários:
Sentia falta dos textos do Barão ;)
Estou voltando ;)
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