Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Segunda-feira




Pedi uma cerveja e um copo. Sentei-me à mesa de costume. Hoje o boteco está vazio. Só os fregueses de costume batem ponto. No rádio toca uma música familiar. É apenas segunda-feira. Enquanto, tomo um gole gelado, penso que na vida toda tive pouca esperança, mas hoje bem que eu poderia te ver. Não sou de romance, mas se quisesse ser, essa era a oportunidade perfeita. Que figura, mexe comigo, me faz sentir jovem de novo. Vivo hoje pensando no amanhã, já que quando chego em casa, o silêncio é minha companhia. Ando pela casa tentando encontrar uma saída, porém, sei que ela está aqui. Peço uma porção de pastel do bar e mais uma cerveja. Parei de fumar pela milésima vez semana passada, mas assinalo ao homem do balcão uma carteira. Hoje não tenho hora, como todos os dias. Já fui mais vivido, batia ponto nos bordéis, nos bares chiques, pedindo sempre conhaque e uísque. Quando olho o movimento da rua, sempre vejo teu rosto num qualquer. Meu coração dispara. Esboço um sorriso, indagando-me porque espero horas para te ver. E a explicação vem num outro gole gelado. Ah! Que delícia! Na outra mesa uma coroa me observa, sinaliza um brinde, piscando, sorrindo e me convidando para sentar com ela. Será mais uma, entretanto, não me faço de rogado. O papo flui entre “oi”, “tudo bem”, “vem sempre aqui”, “que tarde quente”. Esta é Joana. Diz que me observou desde que cheguei, escutou-a com pouco interesse. Quando pensei em falar algo, minhas palavras se diluíram com a vinda dela. A tarde inteira esperando aquele momento. E ela sorri, mexe nos cabelos negros, olha atenta para atravessar a rua. Com meias três quartos e saia plissada azul marinho vêm de braços dado com outra amiga. Quase consigo sentir o cheiro que exala. E de fundo apenas sinto o insistente cutucar de Joana nos ombros. Ela se aproxima, pedi um suco e bolo. Sentam-se a mesa e riem. Falam efemeridades e eu desejo vulgaridades, imoralidades e insanidades com aquela menina. Joana consegue me tirar do transe e a olho atônito. Esboço um sorriso amarelo e peço desculpas. Ela não percebe ou finge não perceber que desejo aquela pequena. Continua falando “sim, eu dizia” e eu não tiro os olhos daquelas meias brancas. Dos joelhos lisinhos e roliços, das coxas semi cobertas por aquela saia azul marinho. E graças ao calor que faz, ela abre alguns dos botões da blusa, me fazendo estufar a calça. Já não me importo com o mundo e nem com Joana (que continua falando), só com os farelos de bolo que insistem em cair por dentro da blusa e com os dedinhos que limpam a boca risonha. Contudo, para minha enorme tristeza, o bolo se acaba e a ninfa se vai. E volto a observar o bar e Joana, que agora se retoca, passando um batom jabuticaba nos lábios. Do bar, vamos parar um motel barato e Joana sensualiza, tentando me deixar aceso. E as meias brancas e a saia azul não saem do meu pensamento. Aquele sorriso maroto e os cabelos negros da pequena. Joana dança e chama por mim. Coloca minhas mãos em seus seios, fala obscenidades e me surpreende com palavras ao pé do ouvido: “finge que sou aquela garotinha”.


Barão da Ralé

2 comentários:

Juliana Brandão disse...

Sentia falta dos textos do Barão ;)

Barão da Ralé disse...

Estou voltando ;)