Baseado em fatos reais, a história de Claudio me chamou bastante atenção, fiquei emocionada quando escutei. Trago-a aqui sem enfeites poéticos.
“Mamãe, restou-me alguma roupa de quando era homem?” – Perguntou ele.
Depois de anos fora de casa, Claudio regressou.
Chegou magro, mal trajado.
Sua mãe o recebeu, abraçou, beijou.
Perguntou se tinha fome. Se queria tomar banho.
Conversaram por horas, até o pai chegar.
Ele foi mais rude. Indagou pelo paradeiro, o que tinha feito, e por que estava vestido daquele modo.
Os ânimos exaltaram-se, Claudio mais uma vez deixou seu lar.
Sua mãe ficou na porta chorosa e o pai resmungando dentro de casa.
Com 20 anos Claudio saiu de casa vestido de mulher.
Com 2 malas, ali levava até sua alma.
Não olhou para trás.
Trabalhava na noite, na esquina da Riachuelo.
Teve muitos casos. Amores. Aventuras. Paixões.
Até juntar-se com Noel.
Homem rude, trabalhador, apaixonado.
Claudia – agora – continuou trabalhando.
Sempre quis ter seu dinheiro.
Noel não se importava, achava digno ela querer ter sua independência.
As aventuras aumentaram. Claudia agora fazia com três, quatro, cinco.
Em apartamentos de luxo e nos covões escuros.
200, 300, 700 reais numa noite.
Habilidosa e charmosa.
Recebeu uma proposta.
3 mil reais.
Um final de semana em hotel de luxo.
Única condição.
Deitar-se sem proteção.
Não contou nada a Noel.
Foi fazer seu trabalho.
Parecia homem de respeito.
Rico, bem influente, daqueles políticos.
Segunda-feira estava de retorno.
Dia qualquer, acordou cedo, foi lavar as roupa, cuidar da casa.
Hoje não iria trabalhar.
mas sentiu-se mal. tontura, suor frio, febre. mal conseguia ficar de pé.
Ligou rapidamente para Noel. Foram ao hospital.
Uma bateria de exames.
6 da tarde do mesmo dia. Um homem de branco entrou no quarto.
Pediu que Noel também se submetesse a exames. Meio contrariado aceitou.
Na manhã seguinte o veredito.
Chamados um por um em sala diferentes.
O médico perguntou a Claudio,
“Você tem mais de um parceiro?”. “Não, Noel é meu único parceiro”.
“Você fala a verdade?”. “Não... sim! Sou garota de programa, mas nunca me deitei sem...”. Lembrou-se do fatídico dia.
Um calafrio tomou conta de seu corpo e na cabeça veio a única condição do cliente. Não esboçou reação alguma. Indagou por seu tempo de vida.
Na outra sala, escutou-se cadeiras sendo arremessadas contra a parede.
Noel entrou pela sala onde estava Claudio e quis surrá-lo.
Foi impedido.
Agressivo, ora chova, ora gritava. Andava de um lado para o outro da sala com as mãos na cabeça.
Não aceitava a condição.
Claudio permanecia do mesmo modo que fora jogado no chão.
Os dias se passaram. Noel abandonou Claudio. Levara consigo todo o dinheiro dos programas.
Claudio ainda permaneceu na casa. Deprimido.
Tinha que comer e pagar o aluguel.
Fez alguns programas enquanto tinha forças. Agora 20, 25 reais.
Até o dia que acordou cego. Foi levado ao hospital rapidamente.
Percebeu que era hora de voltar
Cortou os cabelos. Pegou roupas velhas de Noel e foi até sua casa.
“Mamãe, restou-me alguma roupa de quando era homem?” – Perguntou ele.
Viveu por mais alguns meses. Os pais o aceitaram de volta.
Passou dias difíceis.
No dia que morreu, foi o dia mais lindo do ano.
2 comentários:
Nossa, Barão, que depoimento hein?! Triste, emocionante, fatídico... Onde você ouviu tal relato?
Escutei domingo passado, enquanto tomava café, de uma pessoa que tenho muito apreço. Conversávamos sobre doenças fatais, como a aids, e tive o prazer de escutar a história desse sujeito. Fiquei emocionada. Desci relatar.
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