Hoje quando acordei pedi ao meu
deus de estimação que me concedesse alguns desejos. Comecei pedindo um pouco de
sossego, em algum lugar onde eu pudesse ser eu mesma, sem estereótipos, sem
convenções, regras, falso moralismo, contas a pagar. Somente eu, meu cabelo ao
vento, sem maquiagem e o amarelo queimado do sol se deitando no horizonte. Pedi
também que, por favor, não me permitisse vencer na cidade, nesta selva de clichês,
pedra e cansaço. Não serei feliz, tenho certeza, que ele me leve para longe,
longe das exigências, cobranças, mentiras, necessidades, vontades e solidão da
parede quente do apartamento.
Coloquei os pés no chão, as mãos na beirada da
cama e observando meus dedos segui com meus pedidos em pensamento. Sei que
preciso levantar hoje, trabalhar, estudar e encontrar pessoas que não gostam de
mim (e fingem gostar), algumas que me amam (mas, infelizmente não posso
corresponder), que não desejam nenhum pouco me conhecer (e talvez eu queira),
mas “livrai-me do mau amém”, meu resquício de cristianismo. Levantei e caminhei
até o espelho do banheiro, estou irreconhecível. Cabelos compridos e cacheados,
rosto mais largo, dentes sem aparelho corretivo, com apenas dois pares de brincos
nas orelhas e muitas pintas no rosto ocasionado pelo excesso de sol. Mas, estou
feliz. Feliz por não me exigir vestir 38, por não ter cabelos lisos (que um dia
quis tanto), por não ser perfeita! Feliz por ser quem sou, assumir meus desejos
e vontades diante de tanta hipocrisia, imoralidade, insanidade e desejos mais sórdidos
escondidos em discursos convencionais.
Abro a porta da rua, porém, me
canso só de observar o mundo que passa lá fora e as pessoas que o compõe. Preciso
mesmo ir deus? Inconscientemente, respondo por ele dizendo que sim. As contas
não se pagam sozinhas e algumas pessoas dependem do meu estado de sobriedade
mental para também ter coragem de levantar de suas camas e seguir. Mesmo estando
num estado completo de asco social, sai pela rua desejando bom dia por quem
passo.
Já no ônibus, observando as
pessoas pela janela, peço mais uma vez ao meu deus de estimação para que ele
não esqueça os meus pedidos. Realmente, não desejo estar aqui, não fui feita
para esse mundo, penso e esboço um sorriso sarcástico. Pretensão? Não! Honestidade!
Deixo-o para os fortes, decididos e perfeitos! Se bem, que não vou muito longe
de tudo isso que quero fugir, mas ao menos consigo ver no que fui colocada. E posso
rejeitar. Tentar.
Mais um dia daquilo que não
desejo eu vivo. E meus pedidos persistem no meu consciente latentes! Que mais um
dia meu deus não esqueça de mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário