Lindo nome não? Passaram-se semanas e eu ainda pensava nela. Mas não me esforçava em procurá-la, não era de insistir, nem pensei que teria chances. Mesmo, não pretendia alimentar sonho em vão, estava fugindo deles. Já sofrerá demais por amar quem não me correspondia.
Voltei a Traça, livraria onde tinha visto pela primeira vez Valentina, sem intenções de encontrá-la. Entrei e fui até os livros de poesias eróticas. Ficavam nas estantes ao fundo.
Dirigia-me para os livros, dobrando numa das grandes estantes na livraria, dei de encontro com ela. Derrubando os livros que trazia consigo. Pedi desculpas e ajudei-a juntá-los. Ela era tão gentil, meiga, cheirosa, apenas sorria, enquanto, eu pedia deveras desculpas pelo ocorrido. Ela dizia: “Tudo bem, não se preocupe, isso acontece!”. Não, isso não acontecia comigo.
Para minha surpresa entre os livros que ela carregava, estava o de Anaïs Nin, “Henry e June”. Eu adorava aquele livro. Olhei para o livro e disse: “Que bom gosto, este livro é ótimo, vais adorar”.
Ela sorria sempre. E me disse: “Sério? Fiquei em dúvida se levava este. Mas já que você me indica com tanta certeza e prazer, eu o levarei. Obrigada”. E saiu andando.
Nossa, ela estava levando um livro por minha causa, pensei! Bobagem! Rindo atoa com aquilo que acontecerá, passei a noite pensando naquele sorriso e perfume que me inebriaram. Ela cheirava a rosas brancas inglesas.
Alguns dias de passaram. Lá estava eu, na Traça, folheando alguns livros policiais que tinham acabado de chegar. Quando senti aquele perfume característico, único e um toque suave sobre meu braço, era ela. Com o olhar brilhante. Pedindo-me licença e desculpas por me incomodar. Como se ela conseguisse isso.
Falou sobre o livro de Anaïs Nin, agradeceu pela indicação, disse que adorara o livro. Fiquei ali, sem saber ao certo o que responder. Mas claro, respondi. Não poderia perder essa chance. Assenti com a cabeça e disse que realmente estava feliz por saber que ela havia gostado da indicação. Ela se apresentou, falando que seu nome era Valentina e que apreciava este tipo de literatura.
Dali para tudo que viria, era apenas o começo. Neste dia, passamos a tarde conversando. Foi divino. Supremo. Sublime. Tão sublime, que me levou ao fim.
Depois desta tarde, muitas outras vieram. Noites também. Passamos a ir ao barzinho da praça, nosso outro refúgio. Eu a venerava, sem demonstrar meus interesses, adorava o modo como ela falava e gesticulava.
Certa noite, saímos do bar. O álcool fazia nossas cabeças. E falávamos de música. Ela disse que adorava Cartola, em especial, “cordas de aço”, dizia ser sua música predileta do sambista. Tropeçando pelas calçadas caminhávamos. Determinado momento, nos abraçamos. Pude sentir sua cintura fina e seu cheiro. Aproveitava-me da situação para apertá-la contra meu corpo. Podia sentir o vestido de tecido leve deslizar entre minhas mãos e sua pele.
Valentina estava com o braço no meu ombro. E assim íamos. Quando ela começou a cantarolar: “ e, no entanto meu pinho pode crer, eu adivinho aquela mulher até hoje está nos esperando...” e eu completei “solte o teu som da madeira, eu você e a companheira, na madrugada iremos pra casa cantando...”.
Neste instante ela virou de frente, com os braços no meu ombro e disse: “Vamos pra casa, cantar e beber mais. Lá tenho vinho tinto e poemas de Neruda”.
Rindo, eu concordei. Chegando a casa dela. Bem como ela. A casa era linda. Arrumadinha. Lar de intelectual. Com algumas peças de artes e outras de artesanato. Muitos livros e CDs. E claro, muitas fotografias dela, com amigos e família. Eram lindas. Ela me chamou pra sentar no sofá. Pegou o vinho e duas taças e trouxe depois o livro do Neruda como havia dito.
Comecei a rir e disse que nem precisava tudo isso. Teria indo até sua casa por muito menos. Ela sorriu. E levantou para colocar uma música. Era “Tive sim” do Cartola. Ela retornando, sentou-se mais próximo de mim e perguntou: “Você é feliz?”. Não sabia se respondia. Eram 4 da manhã, tínhamos bebido bastante, no entanto, eu sabia a resposta e assim respondi.
“Semanas atrás eu não era”. Ela me olhou nos olhos e indagou-me mais uma vez: “Por quê? Agora és?”. “Claro que sou eu te encontrei”. Ela sorriu e completou: “Adoro ser sua amiga, estar contigo, me sinto muito bem. És tão inteligente e claro, adora literatura erótica”. Rimos.
Ela estava tão sedutora. Ficamos nos olhando, quando...
[isto não é um suspense barato]
2 comentários:
Estás escrevendo como o Felipov; no entanto com uma diferença interessante: sua mulher cheira a rosas brancas inglesas, enqnto a mulher do Felipov cheira a alfazema =)
Obrigada pelo comentário ;)
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