Era luar. Estava arrumada. Ia encontrar os amigos. A noite ia ser diferente. Deixei a circunstância me levar e o desejo de algo novo me empolgar.
Os planos não existiam. Mas a vontade de ir fundo sim. Olhei o céu, a lua estava linda. Guiava-me. E obscurecia meu caminho, me levando para o submundo.
Ia sambar. Beber. Fumar. A rua sempre deserta para os amantes e os ladrões. Encruzilhada perfeita para os desavisados. Rumávamos às risadas, cambaleando, e eu jogando charme para os poucos homens que passavam.
Esse não seria um dos melhores contos, mas sem dúvida, umas das experiências mais interessantes. Não conseguiria colocar no papel a sinestesia.
Chegamos ao recinto. Eis que uma briga acontecia. Atravessando a rua, as risadas deram lugar a murmurinhos. Não sabíamos se devíamos seguir, e quando demos por nós estávamos muito bem assentados numa mesa.
Olhávamos o lugar com curiosidade e incredulidade. Os homens eram rudes e as mulheres mal vestidas. Mas algo nos fazia querer mais.
A cerveja chegou. Três copos nos foram servidos. O valor nos era agradável. Cada mesa me pareceu um universo diferente. A clientela era diversificada e com objetivos diversos. Inclusive nós estávamos nesse balanço.
Descobrimos que a briga que vimos na chegada era entre vítima e ladrão. Preferimos não conjecturar. O banheiro parecia coisa de filme norte americano de prostíbulos sem categoria. Ao invés no nojo, senti um estranho prazer. Em cima do refrigerador tinha uma colher de pedreiro. Não sei bem. Cheguei a pegar. Mas não lembro o que veio depois.
Os homens eram bem interessantes. Cada um ao seu modo. Os olhares eram inevitáveis, só lembro o pouco que vi. Até a polícia passou por lá a fim de tratar da briga que acontecera horas antes. Ironia.
A noite seguiu. Depois de algumas garrafas. Saldo total de oito, sendo uma quebrada. A mesa a frente começa seu espetáculo. Os homens que antes cantavam sambas, agora se digladiavam. Não soubemos o motivo. Mas a briga continuou.
Isso nos pareceu comum. O garçom seguindo uma espécie de cartilha ou ritual, a fim de não perder o lucro, se aproximou recolhendo os cascos e conversando com uma das mulheres que acompanhavam os sambistas bons de tapa. O pagamento fora feito e a briga continuou.
Olhei todos no entorno, ninguém se importava com a briga dos vizinhos de mesa. Todos muito bem preocupados com seus copos e o papo comia.
Decidimos que aquilo já nos bastava. Saímos cambaleando pela rua escura – apenas os mendigos dormiam e poucos carros passavam – tendo a certeza que aquela experiência seria a primeira de muitas.
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