Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

domingo, 24 de abril de 2011

Zana



Sim. Atire a primeira pedra aquele que nunca teve uma Rosa na vida. Quem nunca amou loucamente. E cometeu danações.

Hoje estive tocando na viola amor proibido de Cartola, lembrei-me de quando amei Zana. Mulata faceira, de rebolado “gingoso”. Sem pudor, me amava na rua, encostada no muro, com as ancas empinadas. Ai mulata, de tesão quase me enfartou.

Na mesma proporção de prazer, chorei de dor. Quando a encontrava distribuindo charme para os malandros da vila no samba. Pegava-a pelo braço. Arrastava para casa. Dava-lhes umas tapas por onde pegasse. E ao contrário do que se imagina, Zana pedia mais, olhando-me nos olhos. Naqueles dias, depois do amor, chorava de tristeza. Aquele amor me despedaçava.

As palavras de Cartola me assombravam “fácil demais fui, presa servi de pasto em tua mesa”. Mas aceitava Zana como era. Não havia mulher igual. Ainda recordava do primeiro dia que a vi sambar. No dia que comemorávamos nosso amor, lhe comprava rosas. Ela nem sequer lembrava. Mesmo assim a levava para jantar no boteco do Jairo. Escutando “Os bambas” tocarem. Zana levantava. Rebolando. Quando avistava minha mulata no salão. Já estava bem acompanhada de um homem qualquer.

“Faço tudo para evitar o mal, sou pelo mal perseguido”... Certo dia, depois do trabalho. Vinha pela rua cantarolando. Naquele dia havia recebido o salário do mês. Tinha comprado para minha mulata um vestido novo para o samba de domingo. Estava ansioso para vê-la nele.

Cheguei em casa. Percebi certa movimentação que vinha do nosso quarto. Olhei pela fresta da porta. Foi meu fim. Encontrei Zana nos braços de outro. E pior de tudo, era Manoel. Meu irmão.

Estavam em nossa cama, num amor insano. Ela gritava, gemia, urrava. Pedia mais. Mais tapas. Mais prazer. Fazia questão de fazer barulho. Não tiveram tempo de notar minha presença (*).

Eu bem conhecia aquele jeito de amar. De explodir em gozo e suor.
Sai do quarto arrasado. Dolorido o peito. Amargurado.   
Sem entender meus sentimentos. Excitei-me com a traição. Deu-me vontade de acender um cigarro e olhar. Simplesmente olhar (*).
Porém sentei na salinha. Pensei que talvez fosse por isso que ainda estava com aquela ordinária que tanto amava.

Num só tempo. Fui até a cozinha. Peguei uma faca.
Entre no quarto. Puxei Zana pelos cabelos e dei fim ao seu prazer de viver.
Assim fiz com Manoel.
Foi assim. O fim de todos...

(*) Inserções especiais de Felipov =D. 

6 comentários:

Juliana Brandão disse...

Vc e o Felipov estão começando a me assustar com suas misturas de amor e tragédia =)

Barão da Ralé disse...

Logo vejo que o mundo precisa mais do Barão =D kkk brincadeira. Essa tendência suicida, trágica, é sempre vista com olhos tortos ou de medo. Isso que me fascina!!!!!!!!!!!!!! Pq lá no fundo, há beleza!!!!! E saber olhar que importa!!! Agradeço teu comentário Ju, isso é uma espécie de medidor, é através das impressões que sei até onde posso ir na criatividade e imaginação!;)

Juliana Brandão disse...

Pois saibas que criatividade e imaginação não te faltam. Continue abusando deles - mesmo que às vezes me deixe amedrontada, rsrs. Apenas tenha cuidado para não se tornar monotemática, ok?

Barão da Ralé disse...

Penso nisso todo dia quando escrevo. Mas esse tema me atrai muito!! Quase doentio!!! kkkkkkk pior de tudo, tenho vários contos já escritos com esse fim ;D. Mas já estou vendo outros caminhos pra extravasar minha criatividade. Obrigada pelo toque! =D

Anônimo disse...

Uau! Que susto gostoso, que final supreendente! Vocês são incríveis! A quebra de expectativa, o jeito sinistro do narrador impressiona, quem dera eu poder ou conseguir fazer algo assim, um dia chego lá...ehehehe

Ansiosa para o próximo!

Barão da Ralé disse...

Obrigada Denise!!!! =D
O próximo já está no forno!