Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

sábado, 23 de abril de 2011

Zenaide



A hora é das putas (sem querer soar pejorativo). Como fez meu comparsa Felipov, com sua Maricota. Trago aqui Zenaide. Apreciem.  




Apreciava samba. Mas adorava A-ha.  Seu quarto era simples, com paredes recheadas de fotos da banda.
 Cobrava 30 reais por hora. Sempre questionei seu preço, já que valia muito mais. Ela dizia que isso bastava para sustentar seu vício.
Fazia de 5 a 7 programas por dia. Quando chegava minha vez, encontrava-a sentada na janela, fumando um cigarro e com um copo de vinho barato e seu A-ha no rádio.
Aparentava cansaço. Nem sempre me deliciava daquele corpo moreno e cheiroso.  Adorava sua companhia. Ao invés do sexo, pedia pra ela fazer o que quisesse. Eu ficaria observando.
As vezes fodíamos loucamente. As vezes cozinhávamos. As vezes fazíamos nada.
Sonhava em ser cantora. Falávamos sobre isso por horas. Não tinha o médio completo. Mas tinha certa cultura adquirida na vida. Gostar de A-ha era uma delas.
Seu maior conhecimento estava na cama. Aquela morena sabia como deixar um homem de pau duro e explodir em gozo. Já tinha trabalhado em vários puteiros. Agora estava livre de cafetões e bordéis baratos.
Com seios pequenos, bicos escuros. Ancas arredondadas. Cabelos negros, levemente ondulados. Coxas formosas e macias. Pelinhos claros. Levava-me ao paraíso.
Certo dia. Cheguei ao prédio vermelho onde morava Zenaide. Vi certa movimentação na entrada. Algumas senhoras choravam, outras pessoas conversavam. Fui impedido de entrar.
Perguntei a um senhor o que acontecia. Ele me informou que a moça do 7 tinha cometido suicídio. Perguntei se era Zenaide. Ele disse que sim.  
Depois que a polícia foi embora levando o corpo dela. Pedi pra entrar no quarto. Disse ser da família.
As coisas estavam pelo chão. As fotos da banda preferida rasgadas. Louças sujas. A janela aberta. O dia estava lindo. Sentei-me no sofá. Fiquei contemplando aquela bagunça. Coloquei A-ha pra tocar.
“O que teria acontecido?” – Pensei.
Foi quando vi um bilhete debaixo do vaso de flores. Nele ela dizia:
“Jaime, sei que és o único que vais ver isso. Saiba que te amei. Porque me amaste também. Conheceste bem mais de mim do que a puta que fui. Meu nome de verdade é Maria. Apesar de tudo que vivemos. Sinto minha’lma vazia. Prefiro dormir e não acordar mais. Do que ter que acordar para com mais homens me deitar, sem prazer, sem amor.”
Mais do que a puta que foi. Via em Zenaide uma menina. Perdida na vida. Parece até que veio pra terra por engano. Sai do quarto. Olhei pela última vez para o recinto e bati a porta...

2 comentários:

Anônimo disse...

Conheci seu blog por meio do comentário que teceste no blog do Felipov, adorei a descrição de seu perfil e ao ler este texto Zenaide, primeiro tomei um susto, porque minha melhor amiga tem este sobrenome e, convenhamos, não é um nome comum. Mas não me preocupei, justamente por perceber que foi mera coincidência.

Mas falando do conto em si, essa linguagem aberta utilizada por você e o Felipe tem me chocado de maneira positiva, até porque estava acostumada com literatura nais formal, cânone, por outro lado isto não tira a beleza de seu texto, uma vez que despertou-me um maior interesse por tal linguajar e conteúdo pós-moderno. Escreves bem e tens bastante criatividade, vou visitar mais vezes seu blog. Até mais!

Barão da Ralé disse...

Oi Denise,

agradeço pelo comentário. As críticas, sejam elas positivas ou negativas são sempre importantes para o crescimento. Fique a vontade para falar o que quiser sempre. Também leio os clássicos. Contudo, tive contato com a literatura erótica, pós-moderna, uma literatura mais "suja", menos formal, que tratam de temas que são recorrentes nesse universo pernicioso. Isso me fascinou!! E acabou me inspirando muito! E me alegra saber que através dos meus textos e do Felipe tenha despertado em ti maior interesse. Seja bem vinda. Fico feliz que tenhas entendido a proposta do Barão. E quanto a Zenaide, simplesmente adoro esse nome.
Aguardo por ti mais vezes!
Até mais.