Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

domingo, 22 de maio de 2011

“Aquela mulher até hoje está me esperando...” Final

Quando escrevi esse conto em outubro ou novembro do ano passado, adorava. Hoje nem tanto. Mas como já comecei a postar, ai esta o final. Apreciem. Isso só demonstra o quanto mudamos. Tudo vale a pena.  





Em fração de segundo, Valentina me beijou com ternura. Envolvendo-me com seus braços. Era gostoso. Tinha um gosto bom. Retribuindo aquele beijo, passava a mão por seus cabelos e a segurava firme pela cintura.  Acordei do seu lado. O sol invadia o quarto. Ela estava deitada de bruços, em cabelo em desalinho. Linda! Fiquei admirando tal formosura de mulher. Nem acreditava que tudo estava acontecendo. Tínhamos passado a noite. Aos poucos ela foi despertando e me presenteando com um lindo sorriso.

Seguiram-se os dias mais felizes da minha vida. Eu a namorava. Sim, a garota linda da vitrine, que um dia foi apenas sonho! Íamos a Traça, ao barzinho, ao cinema. Conversávamos muito, escutávamos sambas da década de 1930 e rock dos anos 70.  E depois, fazíamos amor, de forma louca e insensata. 
Fiquei com Valentina por longos e felizes 4 anos. No entanto, “por que tudo no mundo acontece...?” E no quarto ano, começamos o princípio do nosso fim. Ela começara a trabalhar no Arquivo Público. Estava realizada profissionalmente.  Fez novas amizades. Contudo, não me contou de todos. Não me contou sobre Ele. Logo travaram uma amizade. Ele se apaixonou por ela. Sempre fazia de tudo para atrai-la. E quando soube que era comprometida. Não aceitava que ela não quisesse ter outras experiências. E eu não sabia. Ela nunca se preocupou com as investidas do rapaz.
Fazia uma linda tarde de sol. Lá pelas 5 da tarde, sai de nossa casa e fui buscá-la. Queria levá-la para ver o pôr do sol no Forte do Castelo. Quando estava chegando ao Arquivo, eu a encontrei aos beijos com este rapaz.  O sangue ferveu de ódio. Mas não sabia o que fazer. E acabei indo embora. Não consegui ir pra casa naquela noite. Ela me ligava incessantemente, mas, eu não atendia. Dormi fora, na casa de Carolina, uma amiga. Não queria vê-la nunca mais. Não acreditava que ela poderia fazer aquilo. Meu jeitão introspectivo retornara. Não conseguia falar com ninguém sobre o ocorrido. No dia seguinte, sai da casa da amiga e fui para casa de minha mãe. E lá fiquei refletindo. Minha linda? Com outro? Esse era o fim que eu não precisava.
Passaram-se dois dias depois do ocorrido. E eu não dava as vistas na nossa casa. Ela já estava desesperada, falaram-me os amigos depois. Todos queria saber por que eu sumira. Mas não conseguia falar. Não queria falar. Queria que tudo aquilo fosse um pesadelo. Pensei em viajar e não falar mais com ela. Pensei em simplesmente sumir e deixar que ela vivesse a vida com o tal rapaz. Afinal de contas, ela sempre fora mais forte que eu. Mas enfim. Nada fiz. Nada. Absolutamente nada.
Uma semana depois. Tomei coragem e fui até nossa casa. Mas antes liguei para o celular e dava caixa postal. Liguei para casa, no horário que sabia que ela estaria lá e ela não atendeu. Pensei comigo, “ela está se vingando de mim” – já que não atendia meus telefonemas.
Quando cheguei ao prédio, o porteiro me cumprimentou, perguntando como tinha sido a viagem. Fiquei sem saber o que responder. Ele vendo minha surpresa, disse que Valentina havia comentado com ele que eu viajara a trabalho. Apenas acenei com a cabeça positivamente e respondi que tinha ocorrido tudo bem. Ele me entregou mais de vinte correspondências, estranhei a quantidade, contudo, agradeci e subi. Peguei o chaveiro no bolso da calça e abri a porta, chamando por ela. Procurando encontrá-la sentada no sofá, tomando vinho, de meias azul claro, me olhando surpresa. Mas não a vi. Minha chateação já se dissipava. E a casa cheirava a rosas brancas.
Comecei a chama-la pelo apartamento. Ela não respondia. Mas eu sabia que ela deveria estar em casa. Decidi ir até o quarto e nada. Acabei retornando para a sala. E decidi fazer um jantarzinho especial para ela. Faria o prato favorito dela. Preparei tudo. E ela não chegava.
Liguei mais uma vez para o celular e continuava na caixa postal. Valentina estava demorando naquele dia. “Vou tomar banho”. E para minha surpresa. Ela estava lá quando abri a porta do banheiro. Morta. Com os pulsos cortados. Não conseguia acreditar no que presenciava. Corri agarrei seu corpo frio e inchado. Chorava e beijava. O banheiro tinha o cheiro dela. Era tarde demais. 
Passei o resto da noite venerando seu corpo. Não conseguia me mover. Estava em choque. Até o telefone tocar as 7 da manhã. Parecia estar saindo de uma espécie de transe. Levantei, andei pelo apartamento e atendi ao telefone. “Alô”. “Alô. Bom  dia, Valentina? É você?”. Era voz de um homem. Não pensei em nada. Apenas desliguei. E o telefone tornou a tocar. Sai dali. Sem rumo. Não sabia o que fazer.  Duas horas depois a polícia já tinha ido até o apartamento. A voz no telefone era Ele. Que não satisfeito, foi até nossa casa e encontrou a porta aberta e Valentina morta. Todos me procuravam. A polícia queria averiguar os fatos. 
Depois de três dias me encontraram vagando pelas ruas, ainda em transe, chamando por ela. Alguns amigos, sensibilizados, cuidaram de mim. Não entendia por que ela tinha feito aquilo. Era linda. Inteligente. Trair-me? Se matar? Por que?
Alguns anos depois, estava na Traça, vendo os lançamentos. Tendo superado parte do ocorrido. Eis que sinto um toque no braço. Era Ele. O rapaz do beijo. Fiquei sem ação, mas em seguida me afastei. Ele insistiu e me seguiu. Pediu-me calma. Queria apenas conversar. Saber como eu estava. Bufei de odeio. “O que Ele queria? Já não bastava tudo que tinha acontecido?” – pensei.
Reafirmando que gostaria de conversar. Acabei concordando. Não sei o que aconteceu, mas queria saber o que Ele queria. Saímos dali e fomos até um bar do outro lado da rua. Sentamos e pedimos um cerveja. Ele se apresentou. Disse que se chamava Pablo. E que tinha trabalho com Valentina no Arquivo. E que sentia muito tudo que tinha acontecido a mim e a ela. Que sentia muito carinho por ela. Neste momento não aguentando, falei que sabia bem disse, pois tinha visto eles se beijando no dia tal. 
Ele tomado pela surpresa da revelação disse que não queria que fosse daquele modo. Não entendi e mandei que se explicasse. Ele disse que naquele dia, pediu a Valentina para acompanhá-la, mas ela não permitiu. Insistiu e ela negou novamente. E no momento da despedida, ele a tomou pela forçou e deu-lhe um beijo. Momento que presenciei. O que não vi, pois fui embora. Foi que Valentina o empurrou e deu lhe um tapa no rosto, para conter sua ousadia. E saiu de lá, direto para casa.
Fiquei sem chão. Não sabia o que pensar. Não sabia o que falar. Como podia ter pensado que ela me trairia? Sentia uma culpa imensa. E um filme começou a rodar na minha frente. E ele continuava falando, que ao longo daquela semana, tinha conversado com ela e Valentina se queixava que eu me ausentara. Ele completava que ela não compreendia o que teria feito para que eu agisse assim. Sofria o meu amor pela minha indiferença. Pablo disse ainda que no último contato, ela disse que não se sentia bem, iria tomar alguns remédios para dormir e assim foi.
Sai correndo do bar. Chorando. Não sabia o que fazer. Fui direto para o meio da rua. Queria morrer. Não acreditava que tinha sido assim. Que ela morrera por mim. Por que não fiz nada. Por que não tomei uma atitude. Por que não tive coragem de ir atrás de quem mais amava. Apesar de estar no meio da rua, o máximo que consegui foi parar o trânsito e Pablo veio ao meu encontro para me tirar da frente dos carros que buzinavam ensandecidos.
Apenas gritei que queria ficar só. E ele respeitou. Saiu de lá, me deixando na calçada, de frente a Traça. Passei quase uma hora lá. Olhando pra vala, vendo a água correr.    
Depois deste dia, não fui mais a mesma pessoa. Definhei por dentro. Sentia culpa. Sentia raiva de mim. Mas pelo menos sabia que ela não tinha me traído. Eu a matei. Ela não tinha culpa de nada. Tudo era culpa minha. Ela continuava linda, divina, como na tarde que a encontrei pela primeira vez na Traça, carregando livros que derrubei de seus braços.
Sempre a encontro sentada no Café; de pernas cruzadas; com um vestido de algodão branco; concentrada na leitura de um livro. De lá ela levanta a vista e me sorri. E some. E desde então, as madrugadas são longas, meu eterno castigo.... Mas sei que ela está me esperando.



2 comentários:

Anônimo disse...

Liiiiiiiiiiiiiiiiiindo!!!!! Este texto me segurou do início ao fim!!! Que envolvimento, que persuasão, que linguagem! Que fato e que horror!!!

Adorei!

Sem palavras...

Barão da Ralé disse...

Nooooossa obrigada Denise, me fizestes até gostar dele de novo!!!!! kkkkkk
Quando escrevi esse conto, ele era meu menino dos olhos.. depois o deixei de lado.. mas com teu comentário, repensei!!!


Abraços,