Não recomendo escutar Janis Joplin domingo de manhã. Dá nisso!
[Monólogo de um morto]
Me deu um frio na barriga. [passando a mão da barriga]
Estava com medo, confesso. [mão na cabeça]
Afinal de contas, quem sou eu? [mãos apontadas para si]
Fumante, funcionário público, solteiro, pseudo-vegetariano, leitor de Maigret... não sei mais o que dizer. [indiferença consigo mesmo]
E sem ela. É verdade. [tom baixo]
Nem sabes do que tô falando né? Já sentistes isso antes? [pegando um cigarro na carteira]
Foda. Parece que morri. [olhar incerto]
Odeio vê-la com ele. Odeio a felicidade deles. Odeio saber que poderia ser eu. [acendeu o cigarro]
Eu sei, eu sei. Sou descompromissado. Não tenho pretensões. Não tenho nem casa própria. Sou pobre. Sou feio.
Sou sim cara. Já vistes ele? Carro do ano, boa pinta. O cara sabe o que faz.
Nem de cama sou bom. Na última vez, acho que a filha da puta fingia. Mais deixa estar.
Tô sim cara, tô arrasado. Vamos beber? Consegues um pó? [voz mais animada]
Sério. Hoje não quero saber de nada. O mundo poderia acabar está noite...
[...]
Na verdade não, queria estar do lado dela. [tom baixo]
Mas que merda de sentimento é esse? [angústia]
Aaah tô confuso. Não me sinto bem. Acho que vou ... [vomito]
[brôooooooooo.....aaaahhhaaammm]
Ah cara foi mal. Sinto minha cabeça girar.
Mas quase não sinto meu corpo. DE ONDE É TODO ESSE SANGUE NO CHÃO? [assustado]
Quem é aquele fudido ali? O cara foi atropelado... ele morreu? [voz baixa]
Que doido isso. E eu aqui falando de sentimentos né? [meia-culpa]
Não tô afim não. Vai lá tu. Não, não. Não tô bem. Que merda a gente bebeu?
Não cara, vai lá.
Porra. Vamos logo ver isso, mas depois vamos sair daqui. Esse lance de morte não é comigo. Cara tem muita gente aqui. Foi tão ruim assim a batida? [sirenes de ambulâncias e carro da polícia] [pessoas correndo e chorando]
Put... mer...da... a cabeça do cara foi decepada. Ei cara? Espera? É ela ali. É linda né? [caiu em si] [filme na cabeça]
Aaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! [dor intensa]
E ele só viu um clarão.
Jayme. 26 anos. Apaixonado por Samara. 25 anos.
Perdeu seu grande amor. Sem coragem de falar com alguém. Certa tarde saiu do trabalho, parou num bar qualquer, bebeu até de madrugada. Saiu de lá, pegou seu carro velho e na próxima esquina entrou de baixo de um caminhão.
O amor mata?
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