Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

domingo, 8 de maio de 2011

Quinze anos



Reparando a panela do fogo, pergunto por que ele iria dormir comigo esta noite. Ela apenas me observa com os olhos cheios de lágrimas.
Hoje é meu aniversário. Meus quinze anos. Como todos os anos, será celebrado apenas uma missa. Nada de especial. Acordei cedo. Lavei louças e roupas. Varri a casa. Fui à venda. Depois segui para casa de Dona Esmeralda, lá fiz quase o mesmo que em casa.
De noite fomos à missa. Voltamos no escuro. Em silêncio.
Trajando ainda um dos poucos vestidos de sair, ela me chamou para conversar no quarto.
Com um roxo no olho. Desatou-se a chorar. Entre soluços e meias palavras. Disse que eu era sua única menina. Era especial. Mas que naquela noite precisava ser forte e que aquilo fazia parte da minha nova vida como mulher.
Apenas baixei a cabeça.  Observava-me. De fato, tinha mudado. Não era mais uma menina. Mamãe saiu do quarto e disse que deveria trocar de roupa, deitar na cama e esperar por ele.
Assim fiz, um tanto a contra gosto.
Retirei o vestido. Soltei os cabelos. Olhava-me no espelho apenas de combinação, quando a porta abriu. Ele estava sem blusa, com calça azul, cinto de couro e uma garrafa de cachaça na mão. Olhava-me transtornado.
Largando a garrafa na mesinha, fechou a porta com chave e partiu em minha direção. Estava assustada. Nunca tinha o visto daquele modo.
Tomou-me em seus braços. Olhava-me nos olhos. Cheirava-me. Mordia-me. Tentava beijar minha boca. Eu apenas me esquivava.
Estava enfurecido. Cheirava de cachaça e cigarro. Rasgando minha roupa, jogou-me na cama, puxando-me pelos pés. Mordia e lambia minhas coxas. Quando se deparou com minha xana, arfava, como um animal no cio.
Sentia profunda ojeriza. Chorava baixinho. Pedindo que aquilo acabasse logo. Enquanto pedia clemência. Ele metia-me os dedos e a língua. Apertava meus seios, mordendo-me os bicos. Beijando minha boca. Puxando meus cabelos.
Finalmente me penetrou, lambuzando-se no meu sangue. Estava acabado.
Um ódio invadiu meu corpo. Parti pra cima dele, dando-lhe tapas no rosto, nas costas, mordidas e unhadas. Já de quatro. Xingava-me, dava-me tapas nas ancas, puxava-me pelos cabelos. Sentia um ardor tomar conta de mim, como se fosse explodir.
E explodiu. Caindo sob meu corpo na cama. Escutavam-se apenas seus últimos gemidos de prazer e meu choro. Sentia-me suja, envergonhada. Será que ao menos tinha sido forte como mamãe me recomendara?      
Sem me acariciar. Levantou-se e vestiu-se. Deixando-me aliviada na cama.
Estava nua, ensanguentada, gozada. Mamãe entrou com um balde de água quente e uma toalha. Limpava-me. Acariciava meus cabelos. Chorávamos as duas sincronicamente.
Dizia ela que eu tinha sido forte. Que seria sempre especial.  
Estava quase aliviada por completo. Porém, apesar dos afagos dela, não conseguia esquecer o ocorrido. Sentia dores pelo meu corpo, o cheio da cachaça, cigarro e do gozo.  
Naquela noite mamãe dormiu comigo. Mas nas demais, ele ocupou seu lugar...
     

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