Atrasada 15 minutos, ela atravessa a rua, correndo, cabelos soltos.
Carrega consigo a bolsa predileta.
Olha atenta para os carros que vem, não quer pisar na poça d’água.
Está atrasada para encontrar com ele.
Passa por entre as pessoas tirando fino de cada um. Pedindo desculpas para aqueles que esbarram. Dando corridinhas. O tempo voa.
Essa é Dináh. Estuda arquitetura. 25 anos.
Solteira. Apaixonada. Adora vinho chileno.
E Jamiroquai.
Aguarda o sinal para atravessar, agoniada olhando no celular.
Tinha marcado no barzinho perto de casa.
Mas inventara de pintar as unhas.
Enquanto espera pelo sinal, admira as unhas pintadas de verde.
Um rapaz passa por ela. Esbarra sem pedir desculpas.
Filha única. Aprecia experimentalismo.
Atoa. Tem Ganesha tatuado nas costas.
E adora Neruda.
Aquilo chateia. Mas não faz diferença. 4 e 15.
Finalmente o sinal abre. Corre e entra no bar.
Avista-o. Desculpa-se. “Uma Margarita, por favor,”.
Come massa. Queijo ralado puro.
Espinafre. Gorgonzola.
Água com gás e salada verde.
Sorriso de satisfação. Ele está feliz por vê-la.
Abraçam-se apertadamente por um minuto.
Ele também gosta dela. Ela não sabe. Acha que gosta sozinha.
Os olhares e sorrisinhos não negam o sentimento.
Mas ele é demais.
Mora sozinha. Cuidou da decoração.
Tinha uma janela baixa e a poltrona da satisfação.
Muitos livros na estante.
Conversaram por horas. Ele tem que ir.
Entrega a desculpa do encontro. Um livro. Biografia de Modigliani.
Ela já tem.
“Mas esse é em francês, trouxe pra ti da minha última viagem a Paris”.
Diante da surpresa. Um abraço demorado.
Lê francês como ninguém.
De família rica, teve boa educação.
Morou em Londres e Paris.
Sai feliz. Folheando o livro novo. Sentindo o cheiro das páginas.
Despercebida. Sorri pro mundo.
E lê a dedicatória dele: “Para uma alma novinha”.
Está chegando em casa. Livro na mão. O telefone toca.
É ele, perguntando se tinha chegado bem. Fala distraída...
Dináh gosta de homens rústicos.
Entrega-se as paixões carnais mais do que
as paixões do coração.
Claude Deleuze, ele era operário em Paris.
Frequentadora assídua dos “bares baixos”, ela o conheceu.
Tiveram um caso.
Ele se apaixonou
e ela não!
quando é abordada por Claude. Jogada contra a parede com violência.
Ele saca a faca e lhe tira o prazer.
Proporcionando ao outro no telefone o último ruído de Dináh.
Usa luvas. Abandona a faca lá mesmo e sai sem remorso algum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário