Nas esquinas da vida...

"Se o tivesse escrito para procurar o favor do mundo eu teria me ornado de belezas emprestadas ou teria me apresentado com minha melhor pose. Quero que me vejam aqui no meu modo de ser simples, natural e ordinário, sem afetação nem artifício: é a mim mesmo que pinto". (M. de M.)

domingo, 22 de maio de 2011

De-m-ent-e


Para aqueles que fazem as "escolhas corretas". Viva a insensatez. 



[René Magritte, "A reprodução proibida", 1937]

Ah, ando sem criatividade. Não consigo produzir. Era movido pela dor e angústia. E hoje que vivo feliz, não tenho o que escrever.
A felicidade me inibe: “isso é coisa de louco. Gente pirada” – ela me fala.
Sou meio maluco mesmo. Arrumei um amor pra mim. Decidi casar. Acreditam?
Tenho até um filho. Sou feliz! Bem resolvido.
Sinto falta da minha criatividade. Sentiu-se traída. E pudera.
Era da noite, hoje sou do dia. Era das mulheres, hoje sou DA mulher.
Não tenho mais tino. Sou desconectado. Sou abestalhado.
Vazio. Quase ingênuo. Arruma-dor de palavras tortas.
Frases feitas e conectadas.
Esse não sou eu.
Demente por conta da felicidade excessiva.
Não me basta. Sinto falta dos finais de semana sem fim. Das noites sem dia. Das moedas contadas no bolso. Da menina de sorriso largo e cabelo bagunçado.
Aaah e o cigarro. Parei de fumar. Larguei as roupas rasgadas e sujas. Deixei os livros de sexo e política de lado. Rasguei as fotos dos ídolos.
Sou vegetariano. Faço academia. Roupas de marca. Livros sobre administração de empresas. Fotos da mulher e do filho.
Tenho medo dos mendigos e pivetes nas ruas. Um dia na vida já bebi com eles.
Desorganizar, sem hora pra voltar, um dia de cada vez. Ficou para trás.
Dançar ao som do acaso. Viver por conta da sorte. Beber por profissão. Ficou para trás.
Quem me deu isto? Cavalo de Troia.
Virei demente. De-men-te. Dem-em-te. D-emen-te. Demen-te.
Sumi. Me perdi.   

     

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